Skip to main content

Fernando Pajares*

Uma reflexão sobre as afirmações de diversos “gurus do mercado de TI” nos leva a crer, de forma muito simplista, que tudo deve ser 100% digital em nosso ambiente de convívio empresarial e pessoal.

Infelizmente, esse raciocínio muito difundido tende a não ser verdade absoluta em países como o Brasil, onde os marginalizados financeiramente – em sua grande maioria concentrados nas classes C, D e E ultrapassando o número de 45 milhões de pessoas – não chegam nem a possuir acesso a uma conta Digital (produto de entrada associado a um cartão pré-pago que precisa ser “carregado” para ser gasto em compras on-line por meio de um cartão virtual). Dessa forma, torna-se um sonho impossível para esta população, se considerarmos a possibilidade de obter um cartão de crédito comum, isto é, com um “limite de empréstimo pré-aprovado”.

Ora, se nosso mercado consumidor de produtos de crédito digital está limitado a poucos, que possuem renda para tal, por que toda empresa tem que ser 100% digital, meu amigo? O ser 100% digital não é para todo mundo, e se restringe a um seleto grupo de empresas, que não têm suas origens na América Latina e nem no Caribe,  como Amazon, Google, Facebook, Whatsapp, Twitter, WeChat, Pin DuoDuo, Alibaba, citando apenas algumas e, que mesmo assim também dependem diretamente do mundo físico que é muito forte e presente entre todos nós.

Neste momento surge a pergunta: qual é o equilíbrio entre o digital e o físico? Existe uma resposta certa? Presunçosamente respondo: Depende! (palavra aprendida, lida e ouvida constantemente nos MBAs e pelos “gurus de mercado”). O problema, que parece muito fácil numa primeira abordagem, é muito mais complexo do que se imagina, pois envolve mudanças paralelas processuais, tecnológicas e culturais, que fazem parte do ecossistema interno e externo das empresas.

Por outro lado, para descobrir se queremos, devemos e podemos ser 100% digitais somos obrigados a recorrer a novas e antigas sopas de letrinhas como PDTI, Lean, CoWorking, CoCreation, MoonShoot,  Scrum, Team Working, Agile, Cloud,  APIs, entre tantas outras conhecidas de grande e médias empresas, sendo uma complicação necessária para trazer algum direcionamento nesta nova luta de sobrevivência darwiniana. Soletrado tudo isso, novamente te pergunto, meu caro leitor, como ser 100% digital no nível das micro empresas (MEI) como, por exemplo, os cabeleireiros, botecos e a banca de jornal do bairro?

Se de um lado as grandes e médias empresas ficam confusas, as pequenas sequer têm acesso ao mundo digital e com uma grande fatia do mercado longe de estar no mundo online, me pergunto novamente: será que é preciso ser 100% Digital? A única conclusão possível é que temos um grande “pepino” pela frente ou sendo mais puritano, enfrentaremos um grande dilema Shakespeariano sem possível solução à vista.

Como em qualquer ambiente de guerra envolvendo diferentes estratégias e posicionamentos empresarias, teremos um pouco de tudo entre Bancos Digitais, Supermercados Digitais, Varejo Digital, Shopping Digital, Bem Estar Digital, e muitos outros modismos, onde se destacará aquele que conseguir um mix perfeito entre o mundo físico e o digital. Encontrar o ponto de equilíbrio entre estes dois modelos será um dos maiores desafios nesta jornada experimental diária para escolher ser ou não ser 100% Digital.

*Fernando Pajares é Executivo da Área de TI